Um Romance pouco
‘Arromançado’
Leonor Sepanas, 7º A
Estava a passear pelas ruas de Robertina* e,
de repente, vejo uma Amélia**: careca, a vender peixe, com olhos de desleixo e
também marreca, mas não faz mal. Confesso que não dava para modelo com aquela
cara sem cabelo… Ui! E aquele cotovelo mais parecia um novelo. Mas não faz mal.
Cabeça, tronco e pés lá estavam.
Tentei dar uma piscadela, assim como
uma olhadela marotinha. A minha donzela – nada, nadinha! Procurei um ramo de
flores, já o tinha usado com outros amores. Esta conquista já parecia a do Boa
Vista! Quando, finalmente, consegui prendê-la no meu coração ofereci-lhe um
salmão do Aliexpress. Coitada da mulher, já lhe estava a dar o stress! Antes
que lhe desse um fanico e alterasse o namorico pus o joelho no chão. À pergunta
de casamento respondeu- -me que sim e
mudou a face como com pós de perlimpimpim.
O dia do tal evento chegou. O padre rezou
pr’ali umas palavra, atiraram-nos nos arroz e pronto! Está a boda feita! Bom,
com uns dias para planear não me espanta nem me encanta. Fomos então para a Lua
de Mel, que isto já estava a ficar amargo. O pior de tudo foi, mesmo, o pago.
Nenhuma nota, nenhuma moeda, nada para pagar. Ai, que ia tudo pelo ar… mas a
voar, porque espertos como somos conseguimos arranjar lugar e na cadeira da
Inês, aquela que mora no 33, nos sentar.
Como qualquer casal, juntamos os
trapinhos e trouxemos o enxoval. Instalamo-nos na casinha onde vivemos até
agora.
Posso dizer que, agora com 4 554 meses,
não me orgulho com as escolhas que fiz, em jovem. Agora que sou homem – velho,
mas não faz mal – vejo-me grego para dizer à moça: ‘’Lava a louça’’. Se me
atrevo, dispara com um relatório sobre as pernas que têm carácácá e a anca que
perdeu no Panamá… Enfim… é só conversa da má!
*cidade capital da Terra da Imaginação
**habitantes de Robertina que são resmungões e, normalmente,
já apresentam uma idade avançada (que não é o caso da personagem)